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Mentalidade Financeira

Breaking Bad + Round 6: O Que Essas Séries Nos Ensinam Sobre Finanças (E Sobre Nós Mesmos)

Geison Nascimento
Escrito por Geison Nascimento em 6 de julho de 2025
Breaking Bad + Round 6: O Que Essas Séries Nos Ensinam Sobre Finanças (E Sobre Nós Mesmos)
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Como duas séries de sucesso mundial revelam os erros financeiros mais perigosos que cometemos todos os dias

Você já parou para pensar por que Breaking Bad e Round 6 se tornaram fenômenos mundiais? Claro, são séries bem produzidas, com roteiros envolventes e atuações marcantes. Mas existe algo muito mais profundo que nos prende a essas histórias: elas mostram, de forma extrema, decisões que muitos de nós tomamos todos os dias.

Um professor de química que decide produzir metanfetamina para deixar dinheiro à família. Centenas de pessoas endividadas que arriscam suas vidas em jogos mortais por um prêmio milionário. Pode parecer ficção distante da nossa realidade, mas essas narrativas são espelhos cruéis de como o dinheiro – ou a falta dele – pode dominar completamente o comportamento humano.

Com mais de 15 anos acompanhando as finanças de famílias brasileiras, posso afirmar: vi pessoas reais tomando decisões que lembram muito as de Walter White e dos jogadores de Round 6. Obviamente, não estou falando de produzir drogas ou participar de jogos mortais, mas de escolhas financeiras igualmente autodestrutivas: empréstimos impossíveis de pagar, investimentos em pirâmides, gastos compulsivos para manter aparências.

A verdade é que essas séries são aulas não convencionais de finanças comportamentais. Elas mostram, de forma dramatizada, os vieses cognitivos e armadilhas mentais que nos levam ao colapso financeiro. E o mais importante: nos ensinam como não chegar a esse ponto.

A Mentalidade de Escassez: Quando o Desespero Toma Conta

A primeira coisa que chama atenção em ambas as séries é o ponto de partida dos protagonistas: a escassez. Walter White descobre que tem câncer e se desespera com a ideia de deixar a família sem dinheiro. Os jogadores de Round 6 estão afundados em dívidas impagáveis, vivendo no limite da sobrevivência.

Esse é o primeiro e mais perigoso erro financeiro que podemos cometer: permitir que a mentalidade de escassez domine nossas decisões. Quando estamos com a corda no pescoço, nossa capacidade de pensar racionalmente despenca drasticamente.

Um estudo fascinante dos economistas Anandi Mani e Sendhil Mullainathan, publicado na revista Science em 2013, mostrou que a preocupação constante com dinheiro pode reduzir temporariamente até 13 pontos de QI. É como se o cérebro ficasse tão ocupado administrando a escassez que não consegue mais pensar estrategicamente.

Vejo isso constantemente no meu trabalho. Pessoas inteligentes, com boa formação, que tomam decisões financeiras absolutamente irracionais quando estão sob pressão. Aceitam empréstimos com juros absurdos, investem em “oportunidades” duvidosas ou gastam o que não têm tentando manter um padrão de vida insustentável.

Maria, uma das minhas clientes, é um exemplo perfeito. Executiva competente, mãe de dois filhos, sempre foi uma pessoa equilibrada. Mas quando o marido perdeu o emprego e as contas começaram a apertar, ela tomou uma série de decisões que ela mesma não conseguia explicar depois. Fez empréstimos no cartão de crédito, pegou dinheiro no cheque especial, até tentou vender produtos de beleza para amigas. “Eu não estava pensando direito”, me disse meses depois. “Era como se eu estivesse em pânico o tempo todo.”

A mentalidade de escassez nos faz acreditar que “não temos escolha”. Mas quase sempre temos. O problema é que, quando estamos desesperados, não conseguimos enxergar as alternativas.

O Poder Destrutivo da Aversão à Perda

Uma das cenas mais impressionantes de Round 6 acontece quando os jogadores têm a chance de sair do jogo após testemunharem a primeira morte. A maioria poderia voltar para casa, mesmo endividada, mas viva. Ainda assim, muitos decidem continuar. Por quê?

A resposta está em um dos conceitos mais importantes da economia comportamental: a aversão à perda. Descoberto por Daniel Kahneman e Amos Tversky, esse fenômeno mostra que as pessoas odeiam perder mais do que amam ganhar. A dor de perder R$ 100 é muito maior que o prazer de ganhar R$ 100.

No caso dos jogadores de Round 6, voltar para casa significava aceitar a “derrota” de continuar endividados. Mesmo sabendo que podiam morrer, muitos preferiam o risco de perder tudo ao sofrimento lento de viver com dívidas. É uma lógica perversa, mas muito humana.

Walter White passa pelo mesmo processo. Mesmo quando já tinha dinheiro suficiente para o tratamento e para deixar algo para a família, continuava “jogando alto”. Não era mais sobre dinheiro. Era sobre não aceitar a “derrota” de ser visto como um fracassado.

Essa mesma aversão à perda explica por que tantas pessoas mantêm investimentos ruins por anos, na esperança de “recuperar” o que perderam. Ou por que aceitam participar de esquemas duvidosos prometendo “mudança de vida”. A dor de aceitar a perda atual é tão grande que preferem arriscar perder ainda mais.

Conheci um aposentado que perdeu R$ 50 mil em uma pirâmide financeira. Quando descobriu que era golpe, em vez de parar por aí, pegou mais R$ 30 mil emprestados para “recuperar” o que havia perdido. Resultado: perdeu tudo. “Eu não podia aceitar que tinha sido enganado”, me disse. “Achei que se investisse mais, conseguiria pelo menos parte do dinheiro de volta.”

A Armadilha do Consumo Emocional

Tanto em Breaking Bad quanto em Round 6, vemos personagens justificando decisões financeiras erradas com base em emoções reprimidas. O jogador que aposta tudo para provar que “ainda é homem”. Walter White que quer mostrar para o mundo que não é um fracassado. A esposa que gasta compulsivamente porque se sente negligenciada.

Isso me lembra muito o que Dan Ariely explica em “Previsivelmente Irracional”: nossas decisões financeiras raramente são puramente racionais. Elas são influenciadas por emoções, frustrações, desejos de status e necessidades psicológicas que nem sempre reconhecemos.

O consumo emocional é uma das armadilhas mais comuns da vida moderna. Compramos o que não precisamos para compensar frustrações, competir com os outros ou fugir da realidade. E o pior: sempre encontramos uma justificativa “racional” para isso.

“Eu mereço”, “trabalhei duro”, “é só desta vez”, “preciso me sentir bem”. Essas frases são sintomas de que a emoção está dirigindo o orçamento. E quando isso acontece, as consequências podem ser devastadoras.

Uma cliente minha, advogada bem-sucedida, gastava mais de R$ 3 mil por mês em roupas e cosméticos. Quando começamos a trabalhar juntos, ela estava com mais de R$ 80 mil em dívidas no cartão de crédito. “Eu sabia que estava errado”, me contou. “Mas cada vez que eu me sentia estressada ou triste, ir ao shopping me fazia sentir melhor. Era como uma droga.”

A comparação com droga não é exagerada. Estudos de neurociência mostram que o ato de comprar ativa os mesmos circuitos cerebrais de recompensa que as substâncias viciantes. Por isso é tão difícil parar.

A Ilusão de Controle: O Orgulho Que Custa Caro

Uma das características mais marcantes de Walter White é sua convicção de que estava no controle da situação. Mesmo quando tudo desmoronava ao seu redor, ele continuava acreditando que podia controlar as variáveis e sair por cima. Os jogadores de Round 6 viviam a mesma ilusão: achavam que poderiam vencer usando inteligência, estratégia ou sorte.

Essa ilusão de controle é um dos vieses cognitivos mais perigosos na área financeira. Faz com que subestimemos riscos e superestimemos nossa capacidade de prever e controlar resultados.

Vejo isso constantemente no mercado financeiro. Pessoas que acreditam que podem “ganhar” da bolsa de valores fazendo day trade sem conhecimento. Empreendedores que abrem negócios sem reserva de emergência porque “têm certeza” de que vai dar certo. Famílias que se endividam para manter um padrão de vida porque “no próximo mês a situação melhora”.

Mas existe um componente ainda mais destrutivo: o orgulho. Tanto Walter quanto os jogadores de Round 6 tinham dificuldade para pedir ajuda, reconhecer erros ou ajustar suas expectativas. O orgulho financeiro impede que renegociemos dívidas, ajustemos nosso padrão de vida ou busquemos orientação profissional.

“Eu não vou dar o braço a torcer”, disse um cliente meu que estava com três meses de salário atrasado, mas se recusava a vender o carro importado. “As pessoas vão pensar que estou quebrado.” O que ele não percebeu é que manter as aparências enquanto se afundava em dívidas era muito mais perigoso para sua reputação do que admitir dificuldades temporárias.

O Efeito Bola de Neve: Como Uma Pequena Escolha Pode Destruir Tudo

Tanto Breaking Bad quanto Round 6 mostram como tudo começou com uma escolha aparentemente pequena: produzir drogas para pagar o tratamento médico, aceitar participar de um jogo por dinheiro, fazer uma dívida “só desta vez”, tentar dar um golpe “rápido”.

O problema é que decisões financeiras erradas raramente ficam isoladas. Elas criam um efeito dominó que pode ser devastador. Uma dívida no cartão de crédito se transforma em empréstimo consignado. O empréstimo consignado vira crédito no banco. O crédito no banco se torna agiota. E assim por diante.

Richard Thaler, em “Nudge”, explica como pequenas mudanças de comportamento podem ter grandes consequências ao longo do tempo. Isso vale tanto para o lado positivo quanto para o negativo. Assim como os juros compostos podem fazer uma pequena quantia se transformar em uma fortuna, maus hábitos financeiros também crescem exponencialmente.

O efeito bola de neve funciona em ambas as direções. A diferença está na consistência e direção das escolhas que fazemos. Economizar R$ 50 por mês pode parecer insignificante, mas em 20 anos, com juros compostos, pode se transformar em uma aposentadoria digna. Da mesma forma, gastar R$ 50 por mês além do orçamento pode se transformar em uma bola de neve de dívidas impagáveis.

Conheci uma família que começou fazendo pequenas compras parceladas no cartão de crédito. “Era só R$ 100 por mês”, me disseram. Mas aos poucos, foram acumulando parcelas: celular, geladeira, sofá, televisão, computador. Quando se deram conta, pagavam mais de R$ 1.500 por mês em parcelas, comprometendo mais de 70% da renda familiar.

A Ignorância Financeira: A Vulnerabilidade Que Ninguém Admite

Uma coisa que fica clara em ambas as séries é que nenhum personagem tinha conhecimento básico de finanças. Não entendiam de orçamento, crédito, investimentos ou juros. Essa ignorância os deixava vulneráveis a sistemas perversos: agiotas, cassinos, narcotraficantes ou, no mundo real, bancos predatórios e golpistas.

A ignorância financeira não é apenas um problema individual – é uma brecha explorada por sistemas inteiros. Quem não entende de dinheiro é sempre controlado por quem entende. É assim que bancos vendem produtos financeiros ruins, que pirâmides financeiras prosperam e que famílias inteiras se endividam sem perceber.

Segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) de 2023, 67% dos brasileiros não sabem calcular juros simples. Isso significa que a maioria das pessoas não consegue avaliar adequadamente o custo real de um empréstimo ou financiamento.

Não é à toa que o Brasil tem uma das maiores taxas de endividamento do mundo. Quando você não entende como o dinheiro funciona, fica à mercê de quem sabe explorar essa ignorância.

A Educação Financeira Como Antídoto

A boa notícia é que existe um antídoto para todas essas armadilhas: educação financeira. Não estou falando de fórmulas complexas ou estratégias mirabolantes de investimento. Estou falando do básico: entender como funciona um orçamento, como calcular juros, como controlar gastos, como construir uma reserva de emergência.

Pessoas com conhecimento financeiro básico tomam decisões muito melhores, mesmo sob pressão. Elas sabem reconhecer quando estão sendo manipuladas emocionalmente. Conseguem avaliar riscos de forma mais racional. Têm alternativas quando a situação aperta.

Mais importante: elas não chegam ao ponto de desespero que leva aos comportamentos autodestrutivos que vemos nas séries.

Lições Práticas Para Não Viver Seu Próprio Round 6

Depois de toda essa análise, a pergunta que fica é: como aplicar essas lições na vida real? Como evitar as armadilhas que destruíram Walter White e os jogadores de Round 6?

Primeiro: Monte uma reserva de emergência. Essa é a proteção mais importante contra a mentalidade de escassez. Quando você tem de 3 a 6 meses de gastos guardados, não precisa tomar decisões desesperadas quando a situação aperta.

Segundo: Organize suas dívidas de forma estratégica. Não deixe que o caos financeiro tome conta da sua mente. Liste todas as dívidas, organize por prioridade e faça um plano de pagamento. Trazendo ordem para o caos, você recupera a capacidade de pensar estrategicamente.

Terceiro: Desenvolva consciência emocional sobre dinheiro. Antes de qualquer compra importante, pergunte-se: “Isso é uma necessidade real ou uma compensação emocional?” Adote o hábito de esperar 24 horas antes de grandes compras.

Quarto: Cultive humildade financeira. Aceite que você não controla todas as variáveis. Busque ajuda quando necessário. Reconheça erros rapidamente e ajuste a rota. Lembre-se: seu valor como pessoa não está no que você possui ou consome.

Quinto: Invista em educação financeira. Dedique pelo menos 30 minutos por semana para estudar sobre dinheiro. Leia livros, assista vídeos, faça cursos. O conhecimento é a melhor proteção contra manipulação e golpes.

A Escolha Final: Protagonista ou Vítima?

Breaking Bad e Round 6 nos mostram extremos, mas são metáforas de escolhas que enfrentamos todos os dias. A diferença entre uma vida financeira saudável e uma vida financeira destrutiva não está em grandes decisões heroicas. Está nas pequenas escolhas consistentes que fazemos diariamente.

Walter White e os jogadores de Round 6 se tornaram vítimas das suas próprias escolhas. Começaram como protagonistas de suas histórias, mas permitiram que as circunstâncias e emoções tomassem o controle. No final, viraram personagens reativos, apenas respondendo ao caos que eles mesmos criaram.

A pergunta final que fica é: você está escrevendo sua história financeira com consciência ou está apenas reagindo à pressão como os personagens dessas séries?

Sua resposta pode determinar se você será o protagonista ou a vítima da sua própria história financeira. E diferente das séries, na vida real, você ainda tem tempo de mudar o roteiro.

Se esse conteúdo fez sentido para você, me acompanhe no Instagram @ogeisonnascimento onde compartilho reflexões práticas sobre dinheiro, comportamento e escolhas conscientes.

E se você quer dar o primeiro passo rumo à sua liberdade financeira, conheça o Projeto Bora Destravar as Finanças. É por lá que muita gente já começou a mudar de vida.


Referências

Livros:

  • ARIELY, Dan. Previsivelmente Irracional: as forças ocultas que formam as nossas decisões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
  • KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
  • THALER, Richard H.; SUNSTEIN, Cass R. Nudge: como tomar melhores decisões sobre saúde, dinheiro e felicidade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2019.

Estudos Científicos:

  • MANI, Anandi; MULLAINATHAN, Sendhil. Poverty Impedes Cognitive Function. Science, vol. 341, 2013.
  • KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. Prospect Theory: An Analysis of Decision under Risk. Econometrica, vol. 47, 1979.

Fontes de Dados:

  • CNDL – Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas. Pesquisa de Educação Financeira. Brasília: CNDL, 2023.
  • Serasa Experian. Mapa da Inadimplência no Brasil. São Paulo: Serasa, 2023.